Novo Hamburgo - "Não acredito na recuperação", diz delegado sobre jovem matador.

sábado, 19 de março de 2011

Hamburguense que confessou 12 mortes cumpriu tempo de internação e foi embora da cidade.

 

Foto: Fábio Winter/GES-Março-08

 

Novo Hamburgo - O hamburguense que aos 16 anos confessou 12 assassinatos, em março de 2008, ganhou a liberdade ontem. Às 6 horas, deixou o Centro de Atendimento Socioeducativo (Case) do bairro Canudos e foi embora da cidade com a mãe e dois irmãos pequenos. "Para bem longe", informam parentes. A casa da família, no Loteamento Kephas, foi vendida e está em reforma. As condenações por seis homicídios, um deles com tortura e mutilações, estão pagas. Cumpriu os três anos de internação - tempo máximo permitido por lei - e saiu sem nenhum antecedente. "Só podemos ficar na torcida para que a instituição tenha recuperado esse rapaz. Se ele voltar a delinquir, agora responderá como maior de idade", declara o juiz da Vara da Infância e Juventude de Novo Hamburgo, João Carlos Grey, que assinou a guia de liberação no final da tarde de quinta. É o primeiro caso da cidade de internação integral. O menino matador ou serial killer, como ficou conhecido, receberá acompanhamento de seis meses do Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte, do Ministério da Justiça. "É uma medida para casos excepcionais, no sentido de orientar e proteger o jovem em situação extrema de risco", salienta o magistrado.


Suposto comparsa está na Pasc
O presidiário Juliano dos Santos, o Manão, 28 anos, é o adulto que estaria por trás do adolescente. Preso um mês depois do menor, ele foi condenado em dezembro de 2009 a 20 anos de prisão pelo homicídio de Bruna Tatielle Vieira Rodrigues. Manão e o menor, conforme a Polícia, torturaram a jovem para obter alguma informação referente a desafetos. "Ele tem outros oito anos por um roubo que nada tem a ver com o serial killer e ainda será julgado pelos outros homicídios como comparsa", destaca o delegado Enizaldo Plentz. Manão está na Penitenciária de Charqueadas (Pasc).


TRÊS ANOS por seis mortes
Procurado por um homicídio, o franzino adolescente de 16 anos é detido na tarde de 26 de março de 2008, no bairro Canudos, e assombra a opinião pública ao frisar que cometeu 12 assassinatos
"Eu não mato por dinheiro. Só mato quem faz alguma coisa para mim ou para minha família", declarou ele, com frieza, ao Jornal NH, antes de ser internado no Case de Novo Hamburgo
A entrevista ganha repercussão internacional e o menino recebe fama de serial killer (matador em série). A 4ª Delegacia de Polícia, porém, apura que os homicídios não eram motivados apenas por desavenças
"Alguns ele executou sozinho, mas há dois homicídios já confirmados com um cúmplice e ainda casos de assaltos à mão armada praticados pelo menor", declarou o delegado Enizaldo Plentz

Quatro dias após a internação, a Polícia encontra o corpo de Bruna Tatielle Vieira Rodrigues, 20, no Rio dos Sinos, em São Leopoldo, com sinais de tortura e mutilações
Para o delegado, é a última vítima confirmada do garoto. "Ele abriu ela do tórax ao abdome com uma faca, cortou o mamilo de um seio e arrancou dedos com um alicate", descreve Plentz
O menor é indiciado por seis homicídios em Novo Hamburgo e um em Dois Irmãos. O Judiciário o condena em seis e o absolve pela morte de um carroceiro, no Santo Afonso, por falta de provas
Conforme relatórios do Case, o adolescente tem início conturbado de internação, com brigas e uma tentativa de fuga, mas vai se acalmando com o passar do tempo
Após dois anos de internação, o comportamento do jovem, já com 18 anos, é considerado satisfatório. Torna-se instrutor de bordado e diz que quer apagar o passado, recusando-se a ser chamado pelo apelido
O limite legal de três anos de internação expiraria no dia 25 de março deste ano, mas o juiz da Vara da Infância e Juventude de Novo Hamburgo, João Carlos Grey, decide liberar uma semana antes, a pedido do Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte, do Ministério da Justiça
O magistrado expede a guia de liberação na tarde de quinta-feira e o jovem deixa o Case na manhã seguinte (ontem). Vai embora com a família para outra cidade, sob acompanhamento do programa.


"Não acredito na recuperação"
Para o delegado Enizaldo Plentz, o jovem liberado ontem é uma pessoa perigosa e representa riscos à sociedade. "Não acredito na recuperação dele. Foram vários crimes e um deles com tortura. Essa crueldade toda não se cura em três anos", ressalta. Ao contrário dos pareceres técnicos do Case, o delegado considera ruim o comportamento do jovem na instituição. "Há registros policiais de lesões lá dentro e tentativa de fuga. A pena pode ter ficado no passado, mas não a personalidade e o caráter." Apesar da crueldade dos crimes imputados ao jovem, a conclusão dos profissionais que o acompanharam é que ele não usava drogas.


"Ele não podia voltar ao seu meio", diz juiz
O juiz João Carlos Grey revela que a liberação do jovem vem sendo preparada há meses. "Um princípio natural do processo de ressocialização é que o adolescente não retorne ao meio onde vivia, pois haveria o risco de ser executado no dia seguinte." De acordo com o magistrado, os pareceres avaliativos da Case sempre foram favoráveis ao interno. "Teve um período inicial de revolta, mas parece que depois entendeu a situação. Também tivemos o cuidado de nunca deixar ele se sobressair como uma personalidade em meio aos outros menores. Que toda repercussão em torno dele provocasse tumulto na instituição." Para Grey, a equipe técnica do Case fez um trabalho elogiável. "Os psicólogos, assistentes sociais e pedagogos, entre outros profissionais, conduziram muito bem a situação desse rapaz, que no último ano de internação passou a não querer mais ser chamado pelo apelido, alegando querer enterrar o passado." O magistrado acredita que, em relação aos fatos não provados, o adolescente poderia estar querendo assumir crimes de adultos.


Avós estão esperançosos
Na humilde residência dos avós no Loteamento Kephas, bairro Diehl, a certeza é que o jovem está apto a voltar ao convívio social. A avó conta que costumava visitar o neto duas vezes por semana no Case. ‘‘Ele sempre me falava que, quando saísse, iria trabalhar e continuar estudando. Que aquilo não era vida para ninguém, que não era nada fácil’’, explica a dona de casa, chamada de mãe pelo rapaz. ‘‘Ele sempre me disse que quer ajudar toda a família que sofreu muito com tudo que aconteceu. Dizia que estava lá por culpa dos amigos’’, acrescenta.

 

Silvio Milani
Diário de Canoas

 

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Pedro H. Tesch
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